“Expansão do Metrô em Recife é possível com gestão pública”, defende presidente da Fenametro
28.07.25 Destaques, Notícias, Opinião do Diretor
Por Luiz Soares*
A discussão sobre a privatização do Metrô do Recife ignora um ponto crucial revelado recentemente pelo Estudo Nacional de Mobilidade Urbana (ENMU), conduzido pelo BNDES: a Região Metropolitana do Recife possui potencial técnico para expandir sua rede de transporte coletivo de 68 km para aproximadamente 150 km até 2054. São 81 km adicionais de linhas de metrô, VLT e BRT possíveis, um salto estrutural que só se concretizará com compromisso público federal e não com a lógica empresarial da iniciativa privada.
A gestão pública federal tem a capacidade de garantir investimentos de longo prazo, planejamento integrado e compromisso social — algo que operadores privados, focados em retorno financeiro imediato, dificilmente assumirão. Privatizar o metrô é entregar a mobilidade da população metropolitana a uma lógica de mercado que tende a excluir os mais pobres, aumentar tarifas e limitar investimentos em áreas não lucrativas.

O próprio BNDES, no boletim nº 4 do ENMU (junho de 2025), aponta que o Recife precisa de políticas públicas robustas para garantir essa expansão, com integração metropolitana e prioridade para o transporte coletivo de massa. A responsabilidade é da União — que deve liderar, financiar e garantir a execução de um plano de mobilidade urbana de médio e longo prazo, não repassar sua função a empresas privadas.
Além disso, a privatização é um retrocesso social e técnico: nos últimos anos, experiências semelhantes em outras capitais resultaram em serviços precarizados, aumento de passagens e descontinuidade de linhas. A Região Metropolitana do Recife é uma das mais desiguais do Brasil e precisa de um sistema de transporte que atenda à maioria, e não ao lucro de poucos.
Portanto, defender o metrô público e federal não é ideologia: é coerência com os dados, com as projeções técnicas do próprio Estado e com o direito à cidade. A expansão até 2054 é possível, como mostra o BNDES. Cabe à sociedade e aos governos lutar para que ela seja realidade — pública, acessível e socialmente justa.
E aqui se faz um apelo direto ao governo Lula: não repita o erro do governo Bolsonaro, que entregou o Metrô de Belo Horizonte à iniciativa privada. A privatização da CBTU-BH provocou demissões em massa, queda na qualidade do serviço, aumento de tarifas, além da retirada de direitos trabalhistas históricos. Segundo o sindicato dos metroviários mineiros, a empresa privada responsável pela operação já acumula mais de 100 infrações trabalhistas, e os usuários relatam intervalos longos, superlotação, falhas elétricas e uma queda drástica na confiança no sistema.
A consequência está nos números: a demanda diária caiu de cerca de 220 mil passageiros para menos de 90 mil. O serviço piorou, a tarifa aumentou e a população foi penalizada.
Por isso, exigimos que o governo Lula retire imediatamente a CBTU e a Transurb do Programa Nacional de Desestatização (PND). Cabe à União — e não ao mercado — garantir transporte de massa acessível, integrado e eficiente para o povo do Recife e região metropolitana.
O Recife tem futuro com metrô público. O BNDES confirmou isso. A sociedade exige que o governo federal assuma sua responsabilidade histórica e não permita que o transporte coletivo seja vendido ao capital privado, como se fosse mercadoria. Porque mobilidade urbana é direito, e o direito não se vende. Se garante!
O presidente Lula e o governo federal precisam repensar o rumo do Brasil. Enquanto seguimos presos ao modelo neoliberal e às privatizações, países como Reino Unido, México e China estão reestatizando setores estratégicos, como energia e transporte, para garantir eficiência, desenvolvimento e bem-estar social.
O Brasil deve abandonar a lógica privatista, que concentra renda e fragiliza os direitos sociais, e recuperar a centralidade do Estado em áreas como educação, saúde, transporte público, habitação e infraestrutura.
A população já paga altos impostos e tem direito a serviços públicos de qualidade. Reestatizar o essencial e investir em políticas públicas é o caminho para um país mais justo, soberano e desenvolvido.
*Luiz Soares é presidente da Fenametro e do Sindmetro-PE