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Encontro de Mulheres da Fenametro organiza lutas feministas da categoria

20.04.23 Geral, Notícias

Metroviárias se reuniram nos dias 14 e 15 de abril em São Paulo em atividade de formação e ação política

Por Ana Carolina Andrade

Além de enfrentar uma condição histórica de opressão, as mulheres lutam cotidianamente contra o machismo em suas categorias de trabalho. Para organizar estas lutas, as mulheres da Fenametro organizaram um encontro nos dias 14 e 15 de abril na sede do Sindicato dos Metroviários de São Paulo.

Com o tema “Feminismo e consciência militante feminista da classe trabalhadora”, metroferroviárias de Alagoas, Distrito Federal, Minas Gerais, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo debateram a conjuntura e as especificidades da categoria metroferroviária.

Na sexta-feira (14), a primeira discussão se concentrou na análise da conjuntura e na necessidade de construção de um sindicalismo feminista, antirracista, anti-LGBTfóbico, anticapacitista, socialista e revolucionário.

Neste debate, apresentado pela Secretária de Mulheres da Fenametro, Rosilda Pinheiro, de Pernambuco,  a presidente da Fenametro, Alda Santos, a presidente do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, Camila Lisboa, e Joaninha Oliveira, do PSTU, trouxeram suas contribuições.

A luta das mulheres sindicalistas

Os desafios impostos na luta sindical em um metrô recém privatizado foram trazidos por Alda, que também falou do machismo e preconceito que as mulheres têm que lidar no dia a dia.  Alda destacou que a categoria metroviária ainda é uma categoria muito masculina, e que as pautas das mulheres têm sido secundarizadas. “É um trabalho de formiguinha, que não podemos parar”, destacou ao abordar a necessidade de mobilização das mulheres da base. 

A derrota eleitoral de Jair Bolsonaro (PL) e a importância da vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para garantia da democracia foram aspectos abordados por Camila, que também apresentou um balanço dos 100 dias de governo Lula. Camila tem sofrido ameaças de morte da extrema-direita após uma forte greve dos metroviários, e lembrou que as ameaças não são só a ela, mas que a extrema direita fascista traz mais ódio aos movimentos sociais e sindicais ao se deparar com lideranças mulheres. O fortalecimento das mulheres no âmbito coletivo foi destacado por ela. “A força das mulheres não vem individualmente, mas se constrói na luta coletiva, nas greves e mobilizações”, disse

Em uma sociedade onde as mulheres têm dupla e até tripla jornada de trabalho, Joaninha destacou os desafios das mulheres trabalhadoras em um contexto de crises de violências. Os diversos ataques à escolas que ocorreram nas últimas semanas foram exemplos citados. Joaninha ainda lembrou que as mulheres enfrentaram e enfrentam muitos desafios para estarem em espaços de direção no movimento sindical, e que não basta ser mulher. “É necessário um recorte de classe. As mulheres da classe trabalhadora são exploradas e oprimidas, há diferentes graus de opressão, e será preciso unidade com os homens para superá-la”, afirmou. 

As metroviárias presentes se somaram ao debate e trouxeram discussões como a necessidade de formação dos trabalhadores, e como são as as mulheres as principais afetadas pelas medidas dos governos, já que são a camada mais precarizada da classe. Discutiram também como enfrentar o machismo não pode ser uma tarefa apenas das mulheres, além da sugestão da produção de cartilhas e atividades de formação para a categoria. 

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Durante a tarde, a discussão aconteceu em uma roda de conversa, onde as mulheres presentes discutiram a  escalada da violência contra as mulheres, desde o assédio ao femincídio, e como se dá o assédio no ambiente de trabalho. 

A privatização afeta em especial as mulheres

No sábado (15), os debates foram focados nos efeitos das privatizações, terceirizações, restrições dos serviços públicos e aumento da opressão às mulheres. Com as temáticas e exemplos levantados, foi possível perceber que as privatizações têm atingido e ameaçado os metrôs brasileiros com grande força, e as terceirizações são um fato em todos.

Nesta discussão, participaram da mesa Marisa, metroviária de São Paulo, Kelly, metroviária do Rio Grande do Sul, Amanda, metroviária do Distrito Federal, e Camila, metroviária de Minas Gerais.

Parte de uma política internacional, baseada no sistema capitalista, o objetivo das privatizações foi explicado por Marisa. “Acontecem para passar setores lucrativos do Estado para os empresários”, disse. Marisa ainda lembrou que a lógica da iniciativa privada é ter lucro, não atender à população.

Além das privatizações, os metroviários enfrentam as terceirizações. De acordo com Kelly, na Trensurb, a maior reclamação dos usuários do sistema metroviário é em relação às áreas que foram terceirizadas, como escada rolante e elevadores. Kelly também explicou como funciona o processo de privatização de uma empresa. “É vendida a preço de banana, com financiamento do BNDES, com subsídios do governo, e ainda com direito de devolução”, explicou. 

E se as privatizações e terceirizações são problemas a serem enfrentados, as lutas cotidianas dos trabalhadores por melhores condições de trabalho também são grandes batalhas. No Metrô do Distrito Federal a situação é grave, e nas greves o tratamento da empresa é muito duro. Segundo o relato de Amanda, os metroviários do DF chegaram a ficar 7 meses sem salários por entrarem em greve. 

E como as privatizações e terceirizações afetam em especial as mulheres? Em Minas Gerais, a CBTU-BH foi recentemente privatizada. A metroviária Camila relata as limitações na expansão do Metrô após a privatização, que impactará em especial as mulheres, maiores usuárias do transporte público. Ela ainda relata as dificuldades com a contratação de mais mulheres, que com a privatização e terceirização irão sofrer maior preconceito e terão menos chances de contratação. 

Homenagem às mulheres de luta e que fizeram história 

No encerramento do Encontro, as mulheres presentes trouxeram homenagens às mulheres sindicalistas, lutadoras, revolucionárias e mulheres comuns como Ismene Mendes, Julia Santiago, Maria Quitéria, Silvia Pestaña e Rosa Sundermann. Na construção da história, as mulheres e seu papel tem sido muito apagado. Foi ressaltado pelas metroviárias como a reivindicação do legado, da história e da luta de muitas mulheres é muito necessária.

E se há um processo de apagamento constante também existe a necessidade da luta por justiça para mulheres que tiveram sua vida e luta interrompida. A luta por justiça para Marielle Franco, vereadora do PSOL brutalmente assassinada em 2018, e cujo crime até hoje não foi esclarecido, foi trazida como uma bandeira de luta pelas metroviárias. Marielle, presente! Anderson, presente!

O Encontro aprovou uma moção em solidariedade à Camila Lisboa e Alda Santos, vítimas de ameaças e ataques da extrema-direita, e uma série de lutas feministas para a categoria.