Fenametro repudia concessão do Metrô do Recife: “Um retrocesso inaceitável”
07.08.25 Destaques, Notícias, Pernambuco
A Federação Nacional dos Metroferroviários (Fenametro), junto com todos os sindicatos de sua base, vêm a público manifestar sua total contrariedade à decisão anunciada pelo presidente Lula de conceder à iniciativa privada o Metrô do Recife, hoje operado pela Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU). Segundo informações da imprensa, o anúncio oficial deverá ocorrer em setembro, em parceria com a governadora Raquel Lyra (PSD), mesmo com forte oposição da base social e sindical do presidente no estado.
Para Luiz Soares, presidente da Fenametro e do Sindmetro-PE, a decisão do governo federal vai na contramão da história: “Lula precisa entender que está indo na contramão do mundo. Enquanto Reino Unido, México e outros países da Europa vêm reestatizando suas ferrovias, e a China impulsiona sua ferrovia estatal como motor do desenvolvimento, o Brasil insiste em aplicar a cartilha neoliberal dos anos 1980.”
Um governo eleito pela base popular não pode trair seus compromissos históricos
“Pernambuco, foi um dos estados que deu uma das maiores votações no Nordeste. Fomos nós, trabalhadores e trabalhadoras, que enfrentamos o bolsonarismo nas ruas, que fizemos campanha com força. Agora ele nega tudo isso, tudo que foi construído com luta. Isso é um absurdo.”
Segundo ele, a proposta de privatização representa um ataque direto à CBTU e à ideia de transporte público como direito social garantido na Constituição Federal: “O governo precisa avançar, mas avançar é fortalecer o público, reestatizar, e não privatizar. Transporte não é mercadoria. É direito do povo. E nós vamos dizer a ele, com todas as letras: essa decisão está equivocada. Muito equivocada.”
“Se é pra ter luta, vai ter luta. Vai ter resistência até vencer”, conclui Luiz Soares.

A retirada do metrô do PND é uma reivindicação legítima
Desde 2022, a Fenametro e o Sindimetro-PE vêm defendendo a retirada da CBTU do Programa Nacional de Desestatização (PND). Essa demanda foi levada ao governo Lula com respaldo em argumentos técnicos, sociais e econômicos:
- A privatização não garante qualidade: experiências anteriores mostram que o setor privado prioriza rentabilidade, não o atendimento universal.
- O subsídio público continuará existindo: mesmo com a concessão, o governo federal vai aportar cerca de R$ 3 bilhões — ou seja, o Estado continuará financiando, mas abrirá mão da gestão pública.
- Os prejuízos da CBTU decorrem do subfinanciamento histórico: o Metrô do Recife opera há anos com tarifas congeladas e investimentos insuficientes. Privatizar não é resolver o problema, é transferi-lo.
- A população não foi ouvida: não houve processo transparente, nem escuta pública sobre o futuro do transporte na Região Metropolitana.
Unidades públicas devem ser fortalecidas, não entregues
O anúncio da concessão previsto para setembro, em conjunto com a governadora Raquel Lyra (PSD), ignora o debate democrático com a sociedade civil, os trabalhadores e especialistas em mobilidade urbana. O governo precisa escolher de que lado está: ao lado da soberania nacional e do povo, ou do capital privado que vê no transporte apenas um negócio lucrativo.
Resposta da Fenametro e do Sindmetro-PE sobre os empregos
O Governo afirma ter garantido os empregos dos trabalhadores da CBTU por meio de um Acordo Coletivo Especial (ACE). Mas essa afirmação não corresponde à realidade.
- O ACE tem alguns limites
O Acordo não garante a movimentação dos trabalhadores para outros órgãos, com a garantia dos empregos se a CBTU for extinta. Há cláusulas frágeis e brechas jurídicas. Faltam garantias concretas para a realocação dos trabalhadores em outros órgãos públicos federais. - Não há diálogo real com os trabalhadores
O governo se recusa a negociar de forma transparente. A ministra do MGI não nos recebe. O processo está travado, sem disposição para rever ou melhorar o ACE. Sem diálogo, não há confiança. - Não se pode privatizar sem resolver a situação dos trabalhadores
É inaceitável discutir a concessão do metrô sem antes garantir o destino de centenas de trabalhadoras e trabalhadores. O governo não apresentou um plano sério de transição. A promessa de “preservar empregos” está no discurso, não na prática. - O povo não foi ouvido
A modelagem da concessão foi construída sem debate público. A população de Pernambuco não foi consultada. O metrô precisa de mais qualidade, mais investimentos e tarifa social ou zero — não de um modelo de negócios que prioriza lucro de alguns, ou seja, daqueles que controla o capital.
Queremos compromisso com o povo e com os trabalhadores
Fenametro e Sindimetro-PE exigem:
- Mesa de negociação imediata com o MGI;
- Garantia real de realocação dos trabalhadores;
- Retirada da CBTU do Programa Nacional de Desestatização;
- Abertura de diálogo com a sociedade sobre o futuro do transporte
- Sem essas condições, não há concessão aceitável
- Nenhuma concessão sem resistência
A Fenametro e o Sindmetro-PE reafirmam seu compromisso com a defesa de um transporte público, estatal, acessível e de qualidade. Convocamos a sociedade, os movimentos sociais e demais sindicatos a se unirem contra essa iniciativa. O metrô é do povo. E o povo não vende.